sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ao Som da Revolução





Eu — incinerador,
eu — sanitarista,
a revolução
me convoca e me alista.
Troco pelo "front"
a horticultura airosa
da poesia —
fêmea caprichosa.
Dialética, não aprendemos com Hegel.
 Invadiu-nos os versos
Ao fragor das batalhas,
Quando,
sob o nosso projétil,
debandava o burguês
que antes nos debandara.

A plenos pulmões -Vladímir Maiakóvski  (1915)



Adoro ouvir os tiros que vêm lá da rua,
pois tenho a sensação que alguém é perseguido.

Alguém, lá fora, necessita urgentemente de matar
e outro alguém necessita, mais ainda, de uma saída para continuar vivendo.

Eu só necessito ouvir os barulhos produzidos pelo tiroteio.

Alguém grita: Revolução!

Não ouço mais nada, acho que todos estão mortos.

Conservadores mortos em nome de suas grades.
Revolucionários mortos em nome da liberdade.

Não sei qual morreu pela causa mais nobre.

Só sei que os conservadores tencionavam parar com os tiros,
já os revolucionários queriam barulho.
Sei também que eu (aqui dentro) admirava os revolucionários,
pois estes sempre atiravam mais.

E eu adoro ouvir os tiros que vêm lá da rua.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Mundo Verde



Nesse canto, nesse lar, nessa cidade - sinto o sol nascer junto com teu sorriso.
Vamos ao cinema, curtimos Dolores ao vivo e acreditamos que cada evento foi produzido exclusivamente pra nós.
As ruas são curtas para os nossos pés, e o mundo um longa que podemos dirigir e roteirizar.
Em nosso quarto os três monstrinhos devoram a cama – e ninguém, além de nós, compreenderá  e amará esse fato.

Somos rainhas, vassalos, guerreiras e órfãos  nesse castelo decorado de teias destinais.
Nosso amor é alimento vital: colhido no tempo certo e degustado por doses.
Não desejamos a ressaca da embriaguês sentimental – pois ultrapassamos aqueles sentimentos que vazam.

Desejo que o tempo revele  a grandeza dessa relação.
Desejo que a vida dure o necessário para sabermos quem somos.
Desejo que vivas aqui e além e no findar das existências possamos nos abraçar e assistir o crepúsculo sem  nenhuma culpa.