segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Canto da Sereia Morta


Foto| Kyle Thompson
 para Clara Nunes


E eu era dessas, daquelas, de todas as formas
e colhia tempos e tentava congelá-los para
evitar que a vida  fosse
                                   tão rápida, tão mínima, tão flash.

Peguei a estrada,
inventei ternuras,
armei estragos
e sinto as falhas tornarem-se assombrações – é  sempre um bate e volta
                                           (uma terceira de Newton).

Beijei homens sem dentes,
homens que chupam a pedra
e depois cospem na mão para calar o Diabo.


Beijei mulheres mortas,
mulheres sem pernas e sem braços – sereias suburbanas
(capazes de seduzirem a Lua e morrerem ao Sol).


Eu era a caminhante,
a caçadora de improbabilidades,
a especialista em vazios,
a montadora de quebra-cabeças sem peças.

Caminhei com os fracassados
e aprendi a passagem rápida para o desespero,
                                                    para o estopim.

Hoje não falo mais que treze palavras por dia,
sou das superstições, da reza brava, do tipo
q tece a própria corda para embalar o pescoço
depois de uma vida ruim.