Era mestre em desculpas, todos os dias ao chegar atrasada era capaz de inventar que caiu no bueiro de uma rua próxima, o ônibus quebrou três vezes, esqueceu o cartão de ponto em casa, teve uma diarréia no caminho e para tornar sua ficção mais convincente jogava-se na lama, rasgava partes da calça e chegava ao ponto de esfolar-se em qualquer local propositalmente. Com o tempo os atrasos já não aconteciam e foram substituídos por faltas consecutivas. As desculpas não mudavam: o amigo suicidou-se, a tia faleceu, o pai teve um derrame, a mãe fugiu, um raio queimou sua cabeça. E o inacreditável sempre acontecia: não tinha santo capaz de duvidar.
Um dia decidiu fazer uma lista de quantas pessoas havia matado ficticiamente em um período de um ano e percebeu que já não tinha mais álibis para sustentar suas desculpas. Fatigada com suas infinitas mentiras e falsos assassinatos decidira dar um final aquela situação. Pegou seu celular e enviou um torpedo para todos da empresa. “Hoje não poderei comparecer a empresa, pois terei que ir ao meu funeral.”