quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Terra de Ninguém

Foto: Fonte

Enquanto as ruas são partidas ao meio pela fúria da natureza

Caminho pelas calçadas com o receio de ser dividida

O comércio está fechado, os hospitais lotados e as casas destruídas.

Vejo homens lamentado suas perdas, mulheres desesperadas e as crianças inventam brincadeiras diante aquele caos.

Não há o que ser feito – nenhuma rosa nascerá dentro de uma cratera.

Não há para onde fugir – todas as fronteiras tornaram-se abismos.

Só o sol permanece o mesmo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Amnésia

Convocaram-me para uma missão especial, teria que registrar nessa máquina tudo o que fosse relacionado à guerra. A principio fiquei temeroso, afinal ficar no meio do tiroteio é como brincar de roleta russa, um dia você saí convicto que não está mais na mira de ninguém e uma bala brincando no ar aloja-se no seu corpo. Foi assim que ganhei essa grande cicatriz no ombro. È difícil falar sobre as imagens na foto, naqueles dias tentei sair de mim mesmo, esquecer quem eu era, meus ideais, meus sentimentos. Mas agora é difícil olhá-las com os mesmos olhos daqueles dias. Tenho pesadelos, vivo a base de antidepressivos é como se algo aqui dentro cobrasse uma atitude mais humana: atitude que não tive ali. Essa criança aqui foi baleada a poucos centímetros de mim, não pude fazer nada além de fotografar a cena. Era assim que conseguia manter minha cabeça equilibrada, imaginava que tudo fosse um cenário preparado para apenas virar imagens. Numa conversa com um soldado ele me falou que na guerra só sobrevive quem mantém a cabeça fria e que ele muitas vezes imaginava a batalha como um daqueles jogos de vídeo game que fizeram parte de sua infância. Creio que todos ali fugiam do que realmente acontecia e tudo tornava-se mais fácil. Esse soldado chorando foi responsável pela morte de uma vila inteira, ele não só metralhou os moradores de lá como violentou sexualmente todas as mulheres e crianças. A sensibilidade que a imagem passa diz muito sobre humanos que negam a si mesmos e tornam-se capazes de fazer monstruosidades. Quando voltei para casa uma guerra pior aconteceu aqui dentro: tive que me vencer. Até hoje não acredito que fotografei isso.

Trechos de minha nova obra, ainda em finalização.