domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um Ensaio para Thoreau - Parte I




A longo prazo os homens acertam apenas para aquilo que apontam.
Por isso, embora falhem imediatamente,
 seria melhor que apontassem para algo mais alto.

Existe um pacto secreto entre as formigas, poderia ser dito que as tais criaturinhas são as responsáveis pelo equilíbrio natural da Terra – caminham entre fileiras, respeitando o espaço vazado ao lado, cada uma com um fardo diferente: tamanho, peso, cor, espessura.  

Gosto de observar como se encontram, como se comunicam e com elas aprendo muito sobre o sentido de organização social e disciplina. As vezes, quando mandam-me para o banho de sol semanal, trago comigo uma folha e um lápis para mapear o caminho das pequeninas. 

Um amigo de cela uma vez disse que meus desenhos eram pura arte naturalista, eu nunca entendi muito bem sobre movimentos artísticos e até aquele dia naturalismo conotava a idéia de pessoas nuas e livres. As formigas são nuas e livres e caminham soltas em um mesmo traço, mas nem de longe parecem manter aquela ordem sobre imposições. A natureza de cada uma delega suas funções e ir contra a própria natureza só cabe ao comportamento humano – as formigas confiam no instinto natural. Deve ser por isso que meu colega considera meus desenhos naturalistas. Natural deveria ser sinônimo de verdadeiro, autêntico, aquilo que de fato é desde o seu nascimento.  A prisão não é natural e nem minhas antigas transgressões.

Aqui dentro o tempo não passa devagar, a verdade é que o tempo nunca passa: sentimos o mesmo cheiro diário, o tempero da comida não muda, os dias são sempre iguais. Mas apesar disso minha face sempre ganha um novo traço e teimo em acreditar que um dia qualquer as formigas caminharão sobre ela. Serei o chão que segura o trotar das formigas e juntos carregaremos o mundo, as folhas e os voyeurs de um espetáculo natural.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Resiliência



Vejo o tempo passar por minha pele e tocá-la com o afago da transformação. Sou aquela rocha lapidada pelas ferramentas da natureza - as vezes fico torta, as vezes firme, as vezes despedaço-me e atinjo tudo ao redor.

Vejo códigos indecifráveis no ar, vejo nuvens acompanhando meus pensamentos, vejo veias abertas alimentando o solo de vitalidade.

Vejo o nascimento de idéias decadentes, vejo brotos surgindo do coito infértil, vejo pessoas sem rumo caminhando para o lado certo. E vejo a cada dia os meus conceitos sendo partidos ao meio ou estraçalhados por inteiro.

Nada é e nem dura para sempre, ensinou-me aquela tempestade.