domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Transvalorização


A porta cerrada
não abras.
Pode ser que encontres
o que não buscavas
nem esperavas.(...) Descuidosa, a porta
apenas cerrada
pode te contar
conto que não queres
saber.

Cuidado - Carlos Drummond


A centelha de vida que restara abriu--lhe uma porta capaz de desvanescer toda aflição do passado. O timbre da voz que surgia de dentro era rouco e fraco (igual a voz do velho que hoje oscila entre purgatórios).
Sangue e navalha jogada ao chão: pedaços da cruz, ferramentas do ocaso.
Acabara-se o tempo de violação – anjos travestidos de crianças puxavam suas pernas para o lado de fora.
A fresta da porta despedia-se da fraqueza declarada no olhar enquanto o sol queimava todas as suas ilusões.
Era tempo de caminhar, mesmo que fosse de costas para o chão.




sábado, 13 de fevereiro de 2010

A lógica dos Ponteiros

Uma nuvem pairou dentro da cabeça do menino.

Criou-se um dilúvio e levou-lhe bons momentos:

(Revolução, utopia e Rock and Roll)

( Poesia, Platonismo e Marilyn Monroe)

Trinta anos, despedidas – um cachorro vai e volta.

E no quarto a cabeça semi nua e meio morta.

Qual a chuva destes tempos poderia despertá-lo?

Não há volta – tempestades se aproximam e vão roubá-lo.

(Saúde, tolerância e a bíblia na gaveta)

( Dinheiro, a família e nem ficou a escopeta)

Na cabeça sem escolha só o “diabo” atormenta.

Sem a casa e sem os filhos o mundo é a sentença.

Sair pelos becos à procura do ladrão.

A nuvem é esperta e sempre está na contra mão.

( Sem roupas, sem sapatos e sem documentos)

( Sem nome, sem templo e sem fundamentos)

Já velho, sozinho e sem esperança.

Encontrou seu inimigo e foi embora a vingança.

A nuvem era o óbvio regras inconscientes.

Com a descoberta vieram os presentes:

Revolução, utopia e Rock and Roll

Poesia, Platonismo e Marilyn Monroe

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Herança Sapiens

Ter nascido me estragou a saúde

Não posso absover as dores de um mundo masoquista. Busco a paz, mas a moda assassinou a mulher que não quis entregar-se as ferramentas cirurgicas. Toda quinta-feira analiso o lixo da vizinhança: 80% alimento. Não sou ecologicamente correta, não sou biologicamente correta e nem logicamente correta. Não tenho cor, não tenho raça, meus braços são tortos, minha pele foi transformada em pergaminhos de propaganda. Abandonei bandeiras, silenciei meus votos, fechei as portas, dei descarga na minha ingenuidade. Cadê os deuses? Alguém de fato foi heroí? Existiu um Messias? Onde está sua casa? Você é saudável? Por quantas horas vendemos nossa força de trabalho? E depois? E agora? E antes? O que seus filhos herdarão? Senzalas?