sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sem Figura de linguagem?


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Eu vivo – é a condição de permanência.
Viver não é uma ação opcional como correr e não correr.
Não posso ir ali morrer um pouquinho e depois voltar viva – não posso morrer de amor e depois amar de novo (ou vivo de amor superando toda dor ou morro e acabo com esse vício.)
28 anos que não deixo de existir (e meus felinos são testemunhas ópticas).
Posso dizer que em todos esses anos se quer morri alguma vez.
 E se disserem o contrário, não creiam!
Sempre viva, mas nem sempre a mesma.  
Para alguns – é a morte.
Para mim – fase de gestação.

domingo, 1 de agosto de 2010

A Cidade dos Sonhos Errados



"Um mapa mundi que não inclua a utopia,
não é digno de consulta, pois deixa de fora as terras a
que a humanidade está sempre apontando."
 Oscar Wilde


O relógio funciona graças à precisão mecânica fabricada
por alguém fora dele e invisível a quem o porta: o relojoeiro.
Assim, na opinião de Newton, seria o Universo.
Na de Smith, a vida social regida por interesses econômicos.
A diferença é que o Deus Relojoeiro de Newton é chamado de Mão Invisível por Smith.
Segundo este, o egoísmo de cada um, guiado pela Mão Invisível, promoveria o bem de todos…
Frei Beto


Sonho enquanto caminho pelas ruas decompostas entre coisas e pessoas. Sinto o oxigênio penetrando minhas narinas e compreendo o quanto a urbanidade estragou a pureza de todas as substâncias – ao respirar percebo que sou invadida por fábricas, caminhões, cigarros e todos os brindes gratuitos que a respiração proporciona. Caminhar é pesado – é como se eu carregasse um fardo maior que eu mesma. É como se o mundo tivesse em minhas costas e nada eu pudesse fazer ou questionar. Pertencer ao mundo é arriscado – todo o seu caminho, todas as suas escolhas refletem dentro dele e por isso ele pesa tanto (apenas para lembrá-lo da sua responsabilidade coletiva). Uma senhora pergunta sobre as horas e digo que não posso informar, pois tudo isso não passa de um sonho errado e nos sonhos errados as horas não fazem qualquer diferença. Nos sonhos errados o tempo de cada ser não é acatado – as horas são imposições, as horas servem para a criação e venda de coisas e seres existentes. E naquele sonho errado eu sabia ou apenas admitia para mim mesma que a senhora em questão havia tirado uma folga do relógio. Mesmo assim ela ficou agradecida e como gesto de sua gratidão apontou com o dedo indicador a saída daquele mundo. Decidi não seguir sua coordenada e retornei pelo mesmo caminho. Mas a obviedade dos sonhos errados manifestou-se naquele momento: a paisagem carregada de pessoas e coisas não era mais a mesma – no lugar apenas um deserto e no seu centro uma árvore gigantesca e um letreiro com os seguintes dizeres: Eu sou a árvore da vida. Descanse em minha sombra e decore os arredores! Não fiquei deslumbrada, não sou tão inocente ao ponto de acreditar que as coisas e pessoas permanecem sempre da mesma forma. As Cidades dos Sonhos Errados crescem mais rápido do que um feto em gestação e morrem antes mesmo da puberdade.
Sentei-me a sombra da árvore e comecei a imaginar um mundo melhor - um mundo que comparando com aquele seria o ideal de se viver, sem barulho de usina e sem o tic-tac do relógio. A paisagem era realmente bela, minha decoração transformava-se a cada passo em um paraíso digno da aspiração de ambientalistas e até mesmo de Salvador Dali. Meu sonho errado tornara-se tão certo para mim que a principio não notei que não havia nenhum Adão e Eva por ali e muito menos seus descendentes. Esse era meu mundo solo e não havia platéia e muito menos personagens para interagirem e prestigiarem meu admirável universo, minha utopia terrestre, meu mundo ideal. E com o tempo ele foi se desfazendo – eu  precisava de conflitos, eu precisava de ter algo para lutar contra, eu precisava de paixões e desilusões, eu precisava das horas, do cartão de ponto, da carteira assinada, das revoluções, da embriaguês, da obrigação. Sim, eu precisava das coisas e das pessoas. E foi então que tudo se dissolveu e o relógio finalmente despertou. Seis horas da manhã, o sonho acabou...