terça-feira, 18 de novembro de 2008

Diálogo entre os Deuses ou A incrível descoberta de Nietzsche

– Este filme novamente, você não cansa de assisti-lo ? – Você não vai acreditar, alguns dos personagens desconfiam do que faço! – Como assim, desconfiam? Eles possuem esta liberdade? – Sim, eu concedi isso a eles. – E o que você fez para que suas criaturinhas desconfiassem? – Quando a história deles é finalizada, eu a faço repetir novamente. Desde o primeiro movimento até o último. E o mais sensacional foi que alguns dentre eles começaram a perceber o eterno retorno. – Nossa, suas criaturinhas são demais! – Está vendo essa aqui? – Sim, estou. – Já morreu 500 vezes da mesma forma, no mesmo dia e pela mesma razão. – Sim, e não era exatamente isso que deveria acontecer? – Deveria só que desta vez ela desconfiou de alguma coisa, mudou seu trajeto e não morreu. – Que estranho! E você pode interferir nisto? – Esse é o problema, meu amigo. Quando construí tudo isso aqui, concedi para essas criaturinhas algo que elas chamam de livre-arbítrio e sendo assim não posso modificar as escolhas delas. – E casos semelhantes já aconteceram? – Aconteceram e continuam acontecendo. E o pior é que a história vai se prolongando cada vez mais. Vai chegar um tempo que ela se modificará tanto que vai ser impossível assistir uma repetição. – E o que acontece com as criaturinhas que mudam sua própria história? – Na maioria dos casos elas adquirem um distúrbio conhecido pelo nome de loucura. – E que poder esse distúrbio exerce sobre a criaturinha? – Deixa-a impossibilitada de conviver com as outras. Chega ao ponto das outras criaturinhas isolá-la da comunidade delas e às vezes penalizam-na com a morte. – Que injusto, uma criaturinha dessas, tão esperta, deveria liderar todas as outras! – Como eu disse, não posso interferir. – Então até mais e boa sorte com o eterno retorno!
– Obrigado!
Lisa Alves
Texto publicado em 2005 no Metamorfose Coletiva Texto: Lisa Alves ____________________________________________________________________
Trecho da Teoria de Nietzsche do Eterno Retorno:
Texto indicado pelo blogger Tudo que é sólido se desfaz
E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?
Friedrich Wilhelm Nietzsche