sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ao Som da Revolução





Eu — incinerador,
eu — sanitarista,
a revolução
me convoca e me alista.
Troco pelo "front"
a horticultura airosa
da poesia —
fêmea caprichosa.
Dialética, não aprendemos com Hegel.
 Invadiu-nos os versos
Ao fragor das batalhas,
Quando,
sob o nosso projétil,
debandava o burguês
que antes nos debandara.

A plenos pulmões -Vladímir Maiakóvski  (1915)



Adoro ouvir os tiros que vêm lá da rua,
pois tenho a sensação que alguém é perseguido.

Alguém, lá fora, necessita urgentemente de matar
e outro alguém necessita, mais ainda, de uma saída para continuar vivendo.

Eu só necessito ouvir os barulhos produzidos pelo tiroteio.

Alguém grita: Revolução!

Não ouço mais nada, acho que todos estão mortos.

Conservadores mortos em nome de suas grades.
Revolucionários mortos em nome da liberdade.

Não sei qual morreu pela causa mais nobre.

Só sei que os conservadores tencionavam parar com os tiros,
já os revolucionários queriam barulho.
Sei também que eu (aqui dentro) admirava os revolucionários,
pois estes sempre atiravam mais.

E eu adoro ouvir os tiros que vêm lá da rua.

4 comentários:

  1. Valeu, Lisa! Que saudade de um tempo em que podíamos pensar assim com os ruídos das ruas; os gritos eram outros, os tiros eram outros, os sonhos eram outros. Que saudade! Meu abraço. paz e bem.

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  2. É mais fácil ouvir os barulhos do lado de dentro.

    Ótimo texto!

    Beijo.

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  3. Assim mudanças ocorrem. Violentas por dentro ou por fora - mudanças sempre ocorrerão.

    beijos

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  4. teus versos são um tiro.

    De misericórdia.

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