domingo, 3 de junho de 2012

A Frente Revolucionária do Senhor V.


 

Miserável país aquele que não tem heróis.
Miserável país aquele que precisa de heróis.


Antigamente canonizávamos nossos heróis.
O método moderno é vulgarizá-los.





Surgi com um “quê” de espectro cobrador de dívidas perpétuas. Enterrei a lâmina em suas partes baixas e esperei jorrar todo o vinho de safra benévola retido em suas entranhas. Ele não clamou, apenas lançou os joelhos no chão e exigiu que o último cigarro fosse aceso. Fumamos juntos e o ato que findaria a grande cena tornou-se sem paladar diante a sua falta de relutância. Terminei de inflamar o tabaco e cavei a sua sepultura ali mesmo – sem cruz e dito.  A missão, outrora vingança, tranformou-me em um réptil rastejante e a toca do maldito coelho delongou dez anos para ser deparada. E o que permanece agora? Um trabalho árduo de coveiro? Jogar a terra e ocultar os pedaços de  nossas assombrações como se fosse possível fechar a mémoria ou impedir a lembrança de nossos eus-algozes. Serei transformado na estátua que calou a boca de quem se prontificou a nunca falar –  e para ditos-cujos como eu não há placas de honra e sim uma típica tarja numérica fotografada juntamente com minha frente e dois perfis (direita e esquerda).


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