domingo, 29 de abril de 2012

Línguas Estrangeiras

Arte - Lisa Alves



" A verdade se parece mais com a 
melhor ficção que com jornalismo. " 
  (William Faulkner)


"(...) o uivo coletivo é a única maneira
de dignificação de nossa espécie. porém (...),
 à diferença dos cães, que gemem em espaço aberto,
para a lua, o nosso uivo deve ser confinado, para que,
amplificado pela engenhosa arquitetura das catedrais,
ultrapasse nosso satélite natural e atinja o centro da galáxia,
redimindo-nos aos olhos do criador, que infelizmente é
surdo-mudo e não compreende sequer a linguagem de sinais."

(Campos de Carvalho— retratos surrealistas, p. 30-31)

             

Nós imploramos paciência, senhor mediador – precisamos aparecer nos papéis, no canto da massa e nas cartilhas da igreja e do legislativo. Carecemos compor notas inaudíveis através dessa sua imagem apagada, através dessa sua cabeça caduca e de suas mãos (já não tão suas desde a época da alfabetização). 

Necessitamos, senhor mediador, publicar prognósticos sobre o futuro dos ecossistemas terrestres e quem sabe oferecer-lhe também algumas dicas amorosas – mas para isso basta tão somente manter todas as portas abertas, pois somos muitos e não somos espécime de fileira ou senhas. 

Não adianta chorar, senhor mediador – choraremos juntos, você e nós significamos concordância do verbo, desde o primeiro (aquele que disse o que disse e tornou-se o que é). Falaremos juntos das injustiças do mundo e sobre as coisas que não podemos alterar, até que chegue o dia que seremos assistidos. 

Não acredita, não é mesmo, senhor mediador? Prefere abafar nossas vozes com o seu adequado anestésico social, com sua medíocre interpretação psicológica e sua schizophrenie espiritual. Somos muitos em você e fora de você somos meras manifestações. Deixe-nos guiá-lo para o caminho refletido em onze espelhos, onze esferas e onze retratações de sua vida. 

Sentado esperando respostas, senhor mediador? Já lhe convidamos a fazer perguntas e usá-las como contragolpes. Perguntaremos: o que é a verdade? Responderemos: a verdade? 

A chave oferecida não é uma klischee interpretação enigmática e sim o singelo ato de querer abrir a porta, senhor mediador. "Toc, Toc, Toc", adoramos as onomatopéias – o poder real de interpretação dos sons... Decifre o poder das vibrações das cordas, senhor mediador! 

 V r u m, 
z h a p,
   c h u a ...

2 comentários:

  1. Você entrou em um mundo muito perigoso, senhorita!O escritor mediador vira bonequinha na mão do "inconsciente coletivo". Depois de ouvir o som das cordas, pedirei minha camisa de força, pois nesse fragilidade de vestes, fico impossibilitado de traduzi-la.

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  2. é por isso que carrego meu guarda-chuva. :)

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