quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Ponte

 
Tela: Victor Cauduro


É escusado sonhar que se bebe;
quando a sede aperta, é preciso acordar para beber. 
Sigmund Freud



        Olhava as flores do quintal e sentia uma nostalgia atemporal, uma espécie de sentimento que habitava aquele quintal por séculos – sentimento que visitara um dia seus antepassados e naquele instante instalava-se nela de uma só vez. Olhou as horas e sabia que daqui alguns minutos teria que partir e partiria não só daquele lugar – partiria também seu espírito, seria dividida em várias, um membro para cada espaço geográfico. A mãe com lágrimas nos olhos a abraçou tão forte que naquele instante ela se confundiu e já não sabia mais quem era quem. O pai sentado no sofá, com semblante insatisfeito, não agiu, não falou, não abraçou – apenas pediu-lhe que telefonasse caso chovesse muito pela estrada, o que ela interpretou como: ”Caso aconteça algo ruim, volte!”

Acordou de um sonho de despedidas, o efeito do ácido lisérgico terminara. Tomou uma dose de água, riu e pensou: “Se eu não fosse órfã, teria sido uma bela despedida!”.


10 comentários:

  1. se não fosse sonho, não seria tão bom! :o) beijos, k.

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  2. Um beijo Lisa, sempre bom estar aqui conferindo teus contos e neste o final nos transforma...

    Bom final de semana e carinho.

    Carmen.

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  3. o quadro me fez lembrar RAMATIS... seus textos continuam otimos lisa, parabéns... kezia

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  4. Sempre é triste quando o sol anuncia o fim do LSD...

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  5. Despedidas são sempre assim. Orfã ou não!

    Abraços!

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  6. Um beijo Lisa, sigo vindo aqui para me encontrar em tuas fábulas do mundo real e também te abraçar e desejar uma ótima semana.

    Carmen.

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  7. lisa,onde anda você?! saudades dos teus contos.abração.livia.

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  8. adoro como você escreve. aqui parece kafka, lá burroughs, grandes escritores, e mesmo assim é claro que você é original. que tudo parte de um sentimento, uma emoção vivida.

    seu ritmo na prosa e no verso é demais. parabéns,

    gonzalo

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