terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Surto de Rita


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Estava escuro e nem mesmo as luzes do lado de fora eram capazes de iluminar o grande apartamento situado em uma região selvagem de São Paulo. Macacos e cães atiravam para todo o lado, baratas se reuniam para escrever manifestos contra a ocupação marginal na rede esgoto. Corujas palestravam sobre os bens causados pela cannabis. E os gatos inauguravam o 13º. Deposito de objetos roubados.
Rita, ainda não era selvagem, embora fosse adepta de atos de consumismo sem controle. O apartamento era repleto de objetos sem um significado particular, na verdade os significados vinham dos comerciais, da propaganda boca a boca e isso fazia de Rita uma colecionadora de tudo aquilo que os outros já tinham ou desejavam possuir. Quando os animais civilizados reuniam-se ali, ficavam admirados com a quantidade de coisas sem sentido (todos desejavam experimentar um pouco): mp24, TV com controle mental, computador com download materializador e mais uma quantidade de inovações pertencentes a ratazana. Sim, Rita é de uma espécie de ratos doutrinados nos melhores laboratórios da Nova Ordem Animal. Ela como todos de sua espécie passaram por todos os testes impostos pela NOA e hoje solta no mundo aprendeu a criar sua própria gaiola decorada de acordo com as regras de seus adestradores.
Apesar da vida pacata de ratazana, Rita não estava bem. Na realidade já havia algum tempo que ela pressentia algo estranho em torno de sua existência. Não sentia compaixão pelos animais desfavorecidos, não sentia prazer ao ver os campos orvalhados, não compartilhava sua renda jogada fora nos bolsos do mercado e nem mesmo conseguia contar em suas malditas patas quantos amigos possuía (sobravam dedos). Anos e anos dizia bom dia apenas para a outra ratazana do telejornal da manhã, pois do outro lado da tela era impossível alguém proporcionar-lhe algum desconforto.
O gosto do vazio gerou um câncer tecnológico em Rita - e informação sobre a cura não estava a venda no mercado formal. Na internet, nada. Na TV, impossível. Nos Livros, já não existiam. Na farmácia, só com autorização da NOA. Na NOA, um encaminhamento para o laboratório:
“Consumidora impotente para o sistema, gentileza conduzi-la para o abate.”
Texto: Lisa Alves

7 comentários:

  1. Viajei na sua fábula de um Mundo Real ;

    perambulando por alguns blogs, gostei muito daqui ..
    ja estou seguindo , volta no meu tbm.

    grande beijos !

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  2. De volta as fábulas reais. Creio que tem muita ratazana por ai!

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  3. Esta fábula é tudo isso da vida atual,infelizmente.Este confrontar ideias,sistemas,vidas ajuda a ver a nós mesmos.A nova ordem animal!!!muito bom!Beijão.

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  4. Oi Lisa, e foi bom vir aqui seguindo sua pista pra encontrar seu blog com gritos, gestos e outras coisas bonitas.
    grande abraço!

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  5. Oi Lisa

    Vlw pela visita no meu blog... faz um tempinho que não faço mais nda pra zine, muito mais por falta de oportunidade do que por vontade (rs). Mas estamos aí.

    Ah! Parabéns pelo blog!

    tks
    Lucaz

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  6. é a macacada reunida.


    Robson

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