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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Canto da Sereia Morta


Foto| Kyle Thompson
 para Clara Nunes


E eu era dessas, daquelas, de todas as formas
e colhia tempos e tentava congelá-los para
evitar que a vida  fosse
                                   tão rápida, tão mínima, tão flash.

Peguei a estrada,
inventei ternuras,
armei estragos
e sinto as falhas tornarem-se assombrações – é  sempre um bate e volta
                                           (uma terceira de Newton).

Beijei homens sem dentes,
homens que chupam a pedra
e depois cospem na mão para calar o Diabo.


Beijei mulheres mortas,
mulheres sem pernas e sem braços – sereias suburbanas
(capazes de seduzirem a Lua e morrerem ao Sol).


Eu era a caminhante,
a caçadora de improbabilidades,
a especialista em vazios,
a montadora de quebra-cabeças sem peças.

Caminhei com os fracassados
e aprendi a passagem rápida para o desespero,
                                                    para o estopim.

Hoje não falo mais que treze palavras por dia,
sou das superstições, da reza brava, do tipo
q tece a própria corda para embalar o pescoço
depois de uma vida ruim.






quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Aos Necrófilos


Marc Riboud






“Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.”

Do poema Possibilidades de Wislawa Szymborska





Para mim o pior da vida está
na glória póstuma
na paixão prófuga e
naquilo que se rompe sem o pretender.

Para mim o pior presente
está nas datas assinaladas e
na compensação de posturas ocas.

Eu amo as faces autênticas
mesmo quando deformadas ou
nascidas de gestações desfavorecidas.

Não me venham com doses de caridade e poemas de flor&cultura
pois o que eu semeio são cactos resistentes e versos do inverso. 





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Fama Volat

Michael Vincent Manalo

In memoriam a Amy Jade Winehouse



Dentro da taça um vulto introespectro pousa, salivo a retina e sorvo um conteúdo obsessor.

Já não sou casta ao ponto de andar sobre os dois pés e de cabeça rasa.

Síndrome de super homem ativa minha percepção e molda o meu caminhar.

Carreira in quatro linhas horizontais, igualmente me seduz.

Artificializar os sentimentos é uma proposta garantida para o esquecimento.

Cultuo HQs ao ponto de crer em pozinhos mágicos.

O pó dos ossos enriquece a estética humana – gera-se noradrenalina e assim as iniquidades do mundo tornam-se risíveis. 

Gargalho sua falta de graça, danço sua robótica música, transo com pedaços de carne.

Todos possuem um açougueiro interior
Todos possuem um coveiro interior

Eu só tenho uma chave sem uma arca,
uma chave sem uma entrada e muitas especulações.


O amanhã é sempre uma incerteza e o destino um leito de terra.

Preparo uma dose maior, pois ainda consigo sentir humanidade.

Aspirar,
respirar,
aguardar
o tempero
do tempo e
encarar a multidão.

Há um espelho que conserva minha legítima face:
 
“Fugit irreparabile tempus”

Há um espelho que desbota os dias de glória.


Logo só me restará
 um quinhão de Heroína & um prazer súbito e mortal.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Troco




 Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, 
nesse quase que é a única forma de suportar a vida 
em cheio, pois um encontro brusco face a face 
com ela nos assustaria, espaventaria os seus delicados 
fios de teia de aranha.

Clarice Lispector - Água Viva






Desencaminhou sua quietude ao cruzar com sua meia alma. O encaixe despontou como um 

Big Bang de sensações – ele desmoronou, gemeu, seu corpo não suportou o atrito de 

energias tão compatíveis. Trêmulo estendeu a mão para que ela o alcançasse e ela sem 

delongas correu ao seu encontro – presenteando-o com um doce toque de cobre na calçada.





O Cu dos 100 Ânus ou a Colonoscopia de um Povo - Lisa Alves - 2012