"Os homens tanto conquistaram;
Vejam! Até asas tomaram -
Artes, ciências,
mil exigências.
E apenas do sopro do vento
o corpo tem conhecimento."
Walden ou a Vida nos Bosques - Thoreau
Nunca contemplei tanto a natureza quanto agora, nunca amei tanto o canto repetitivo de um pássaro quanto hoje. O amor é um sentimento ilimitado e nunca tínhamos sido apresentados de fato. Sempre fui um homem extremamente apaixonado, mas nunca me dei o trabalho de experimentar o amor. Minhas paixões morriam dentro de sonhos, ideologias, metas, desejos e proximidades. Percebo a sensação de amar quando olho para o céu e vejo a imensidão azul cair sobre mim, pois é naquele instante que tenho a certeza que somos um, mas não somos a mesma coisa e não ser a mesma coisa livra-me da forma. Eu amo tudo sem a condicionalidade de uma troca igual ou de qualquer troca. Posso afirmar que amo tudo aquilo que não sou, todo assombro, toda natureza desigual. Amar o próximo é tarefa fácil, difícil é ter amor universal.
Quando eu morrer serei engolido pela terra, nos tocaremos, nos trocaremos e no final seremos outro além de homem e terra.
Se a sorte contemplar minha nova vida, serei formiga, serei formigas e sentirei a Terra em várias versões – serei diverso, serei um verso natural.
Gosto deste faz de conta de ser outro, pois assim consigo treinar meu sentimento universal – amar o que está além da realidade e ser capaz de amar o que de fato está distante: um pai hoje chora no Japão, gostaria muito de conseguir amá-lo, pois quem ama o Tsunami é Thoreau (meu amigo de cela).