sábado, 19 de março de 2011

Um Ensaio para Thoreau - Parte II






"Os homens tanto conquistaram;
               Vejam! Até asas tomaram -

            Artes, ciências,

             mil exigências.

               E apenas do sopro do vento

               o corpo tem conhecimento."

Walden ou a Vida nos Bosques - Thoreau



Nunca contemplei tanto a natureza quanto agora, nunca amei tanto o canto repetitivo de um pássaro quanto hoje. O amor é um sentimento ilimitado e nunca tínhamos sido apresentados de fato.  Sempre fui um homem extremamente apaixonado, mas nunca me dei o trabalho de experimentar o amor. Minhas paixões morriam dentro de sonhos, ideologias, metas, desejos e proximidades. Percebo a sensação de amar quando olho para o céu e vejo a imensidão azul cair sobre mim, pois é naquele instante que tenho a certeza que somos um, mas não somos a mesma coisa e não ser a mesma coisa livra-me da forma. Eu amo tudo sem a condicionalidade de uma troca igual ou de qualquer troca. Posso afirmar que amo tudo aquilo que não sou, todo assombro, toda natureza desigual. Amar o próximo é tarefa fácil, difícil é ter amor universal. 

Quando eu morrer serei engolido pela terra, nos tocaremos, nos trocaremos e no final seremos outro além de homem e terra. 

Se a sorte contemplar minha nova vida, serei formiga, serei formigas e sentirei a Terra em várias versões – serei diverso, serei um verso natural. 

Gosto deste faz de conta de ser outro, pois assim consigo treinar meu sentimento universal – amar o que está além da realidade e ser capaz de amar o que de fato está distante: um pai hoje chora no Japão, gostaria muito de conseguir amá-lo, pois quem ama o Tsunami é Thoreau (meu amigo de cela).