Para o solo não tenho mais pés de andarilho, apenas recordações.
Não há lua que eu não conheça e nem estrela chamada “aquela”.
Fui o mais fervoroso crente no amor: casei doze vezes.
Feio no nascimento e bem arranjado na juventude, agora sou apenas “Seu Tião”.
Escrevi muitos versos, nenhuma página publicada,
mas nas gavetas de minhas senhoras habitavam epopéias.
Lacei Maria no canto, Rosa ganhei na prosa e com Juliana foi amor.
Não fui dono daquela fábrica e nem da fazenda de gado, mas fui autor do meu caminho.
Cada traço do mundo, cada rabisco do infinito, um dia explorei.
Não me pergunte sobre a economia mundial,
pois a única bolsa de valores que conheci foi essa mala carregada de lembranças.
(o vestido de Janaina, o boné de Pedrinho e a pedra.)
Essa pulseira azul foi a condição de volta que Anna me deu.
Mas Tião não volta, Tião sempre segue para uma vida nova.
Até mesmo aqui, no lar dos que não podem caminhar
exploro cada ruga dos meus novos companheiros. ( Não há um mapa repetido )
E a geografia do mundo caí por terra quando descobrimos que cada pessoa é um novo lugar:
um velho carrega um mundo, uma mulher esconde sua realidade e o poeta reinventa o céu.
Por isso Tião nunca volta, o tempo não permite retornos.
Para quê ler o mesmo livro se o mundo é uma grande biblioteca?
Caminhei com as estações e quando minhas pernas falharam continuei o caminho a nado.
Sempre há uma forma de continuar...
Um coração que bateu doze vezes ainda pode desbravar o mar.