domingo, 2 de agosto de 2009

Céu de Gesso

– E o sol, ele veio de onde?
– Acho que já estava aí há muito tempo, é grande demais para ter vindo. Não acha? – Não sei, não acredito que algo simplesmente apareça e pronto. Igual a nós, não aparecemos simplesmente, passamos por um longo processo evolutivo. – Ah se for assim, quem sabe ele também não nasceu da junção do feminino e masculino. – Quem sabe... – Porque você tocou nesse assunto mesmo? – Foram os olhos! – Os olhos? O que uma coisa tem a ver com a outra? – São redondos! Falávamos de objetos redondos. – Ah ta! Vamos maneirar na erva! Minha linha de raciocínio está indo embora. – Na verdade sua linha de raciocínio está certa. Já a memória... – Nem vem, garota! Está noite você esqueceu duas vezes o nome da sua mãe. – Duas? E qual o nome dela mesmo? – Engraçadinha! Falando sério, acho que existe alguma outra história por trás dessa história de espaço. – Como assim? – Você acredita mesmo em estrelas, cometas, sol e outras galáxias? – Eu só posso acreditar. Com certeza vamos morrer e jamais pisaremos fora deste planeta. – Logo, jamais saberemos a verdade e se jamais saberemos por que nos distraímos tanto com essas questões? – Porque o óbvio perdeu seu encanto. Precisamos responder por conta própria aquilo que nos responderam, mas não tivemos a oportunidade de constatar. – Eu questiono o óbvio. Você não? – Eu não questiono o funcionamento de um carro, nem do telefone, nem da energia, nem do computador e nem do telescópio. Sei que alguém fez e existe um botão “ligar e desligar”. – Já eu questiono até o que possuí manual de instrução. Por exemplo: Você compra um aparelho celular, o manual explica com detalhes como devemos utilizá-lo, mas eu nunca li no manual uma explicação detalhada de como ouvimos a voz de outra pessoa através das ondas e o porquê das ondas conseguirem reproduzir a comunicação. Entende? – É só uma questão de estudo. – Com certeza! Quer saber, vamos fumar mais! – Dessa vez você faz. Pra quem queria maneirar na erva, hein! – Essa dissecação de idéias pede por mais um cigarrinho. – Fiat Lux! – Assim disse Deus. – E o diabo apareceu – E eles construíram a Terra em sete dias. – E no oitavo fumaram uma ervinha por que ninguém é de ferro. – No nono dia tiveram uma revelação. – Foi revelado que lutariam por causas opostas. – Passe o beck! – Quem disse isso: Deus ou o Diabo? – Fui eu! – Sabia que você era tinhosa! – Quem revelou a eles? – O espírito. – Então existe uma terceira pessoa na história? – Sempre têm uma terceira pessoa nas histórias. O terceiro elemento é o grande assassino dos romances. – O Espírito chega e acaba com a boa vida dos dois – resumida entre uma erva e uma criação. – Dali por diante seguiriam por caminhos diferentes. – Cada um veria a criação ao seu modo – para no final discutirem sobre tudo. – Como duas boas amigas deitadas no meio da sala. – Fumando um baseado e olhando um céu de gesso. – Fim. Texto: Lisa Alves