Arte Lisa Alves |
sábado, 15 de dezembro de 2012
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Aos Necrófilos
“Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.”
Do poema Possibilidades de Wislawa Szymborska
Para mim o
pior da vida está
na glória póstuma
na paixão prófuga
e
naquilo que
se rompe sem o pretender.
Para mim o
pior presente
está nas
datas assinaladas e
na compensação
de posturas ocas.
Eu amo as
faces autênticas
mesmo quando
deformadas ou
nascidas
de gestações desfavorecidas.
Não me
venham com doses de caridade e poemas de flor&cultura
pois o que
eu semeio são cactos resistentes e versos do inverso.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Fama Volat
In memoriam a Amy Jade Winehouse
Dentro da taça um vulto
introespectro pousa, salivo a retina e sorvo um conteúdo obsessor.
Já não sou casta ao ponto de
andar sobre os dois pés e de cabeça rasa.
Síndrome de super homem ativa minha percepção e
molda o meu caminhar.
Carreira in quatro linhas horizontais, igualmente me seduz.
Artificializar os sentimentos é uma proposta garantida
para o esquecimento.
Cultuo HQs ao ponto de crer em pozinhos mágicos.
O pó dos ossos enriquece a estética humana – gera-se noradrenalina e assim as iniquidades do mundo tornam-se risíveis.
Gargalho sua falta de graça,
danço sua robótica música, transo com pedaços de carne.
Todos
possuem um açougueiro interior
Todos
possuem um coveiro interior
Eu só
tenho uma chave sem uma arca,
uma
chave sem uma entrada e muitas especulações.
O amanhã é sempre uma incerteza e o destino um leito de
terra.
Preparo uma dose maior, pois ainda consigo sentir
humanidade.
Aspirar,
respirar,
aguardar
o
tempero
do
tempo e
encarar
a multidão.
Há um espelho que conserva minha legítima
face:
“Fugit
irreparabile tempus”
Há um espelho que desbota os dias
de glória.
Logo só me restará
um quinhão de Heroína & um prazer súbito e mortal.
domingo, 3 de junho de 2012
A Frente Revolucionária do Senhor V.
Miserável país aquele que não tem heróis.
Miserável país aquele que precisa de heróis.
Antigamente canonizávamos nossos heróis.
O método moderno é vulgarizá-los.
Surgi com um “quê” de espectro cobrador
de dívidas perpétuas. Enterrei a lâmina em suas partes baixas e esperei jorrar
todo o vinho de safra benévola retido em suas entranhas. Ele não clamou, apenas
lançou os joelhos no chão e exigiu que o último cigarro fosse aceso. Fumamos
juntos e o ato que findaria a grande cena tornou-se sem paladar diante a sua
falta de relutância. Terminei de inflamar o tabaco e cavei a sua sepultura ali
mesmo – sem cruz e dito. A missão, outrora
vingança, tranformou-me em um réptil rastejante e a toca do maldito coelho delongou
dez anos para ser deparada. E o que permanece agora? Um trabalho árduo de
coveiro? Jogar a terra e ocultar os pedaços de nossas assombrações como se fosse possível
fechar a mémoria ou impedir a lembrança de nossos eus-algozes. Serei
transformado na estátua que calou a boca de quem se prontificou a nunca falar –
e para ditos-cujos como eu não há placas
de honra e sim uma típica tarja numérica fotografada juntamente com minha
frente e dois perfis (direita e esquerda).
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