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Arthur Tress |
as paredes racham
meninos brincam com césio 137
nos quintais a última marca de existência é um campo de penas
e o escultor tenta reproduzir a delicadeza das fêmeas com arames farpados,
é tudo simulação
uma privada exposta em mais um museu
o homem que não sabe cantar mugi
mugiremos até o próximo matadouro
morreremos sem injeção letal e ao som do tic-tac,
é tudo performance
uma legião caminha às cinco da manhã
pelo pão de cada dia vendei-nos hoje e
se tivermos sorte amanhã (e depois), pois
o padeiro não perdoa ninguém e ninguém
perdoará o padeiro pelo trigo transgênico,
é tudo demarcação
células, anticorpos, DNAs,
estômago, refluxo, aparelho digestivo,
fetos e flores de cianureto
levam a assinatura de um único amo:
o dono do amanhã.
poema originalmente publicado na Revista Incomunidade (Portugal)
tava lendo (traduzindo) alexander blok e lembrei rapidamente de ti, das tuas instáveis e bonitas utopias
ResponderExcluirum abraço
os doze por aleksandr aleksandrovitch blok (excertos; janeiro, 1918) [trans. ramonlvdiaz]
1.
noite em trevas.
a neve tão alva.
o vento, o vento!
impossível manter-se de pé.
o vento, o vento
arrebatando essa terra de meu deus!
o vento circunscreve
a pureza da neve.
abaixo -- o zero absoluto.
movediço, árduo
para todos que ali transitam
em desgoverno -- uns pobres diabos!
entre os prédios uma
corda que estende-se.
nela suspenso um cartaz:
"Todo Poder para a Assembleia Constituinte!"
uma velha senhora lamenta e chora
sem compreender ,
"por quê tão grande?"
com ele poderia calçar os passos
dos meninos, encobrir mendicantes...
.
a anciã, como uma ave ligeira,
atravessa o monturo de neve.
-- ah Virgem Maria olhai por nós!
-- ai a maioria que joga na cova toda gente! (*большевик, bolchevique = maioria)
.
o vento é alegre.
alegre e terrível.
embala as vestes dos transeuntes,
rasga, torce e agita aquele cartaz:
"Todo Poder para a Assembleia Constituinte!"...
e enquanto embala lança estas palavras:
.
... "também tivemos o nosso próprio congresso... "
... "aqui, neste edifício... "
... "debatemos... "
... "e decidimos:
por uma hora dez rublos,
pernoite vinte e cinco
... e não cobre menos de ninguém...
... vem vamos dormir..."
.
anoitece profundamente.
as ruas desertificam-se.
apenas um mendigo
propenso enquanto o vento cicia...
9.
[...]
um burguês estratifica-se na esquina
sem saber onde meteu seu nariz coberto.
um cão sarnento aproxima-se indeciso
e encolhe pondo o rabo entre as pernas.
.
o burguês como um cão faminto hesita
sem nada dizer.
e o velho mundo estratifica-se na esquina
como um cão sarnento, também pondo o
rabo entre as pernas.
[...]
12.
... e avante, marcialmente seguiam...
"quem vem lá? saia logo ou atiro!”
mas era só o vento brincando com
bandeiras vermelhas logo a frente...
.
então adiante num monturo de gelo,
"ei voce, logo ai, saia logo ou atiro!"
era apenas um cão vagabundo que
tropeçava em sua fome.
.
"vá-te, cão vadio, ou minha baioneta
irar perfurar ainda mais teu vazio!
desapareça também velho mundo
ou farei a ti muito pior"
[...]
"quem vem lá andando em passo acelerado,
escondendo-se atrás dos prédios?”
"são todos iguais, irei pegar todos vocês,
venha logo agora -- desistam de uma vez!”
[...]
Rata-tata-tata-tata! apenas o eco
das balas rebatendo nos prédios...
apenas a tempestade responde
com a sua fria risada...
Rata-tata-tata-tata!
Rata-tata-tata-tata!
Uau! Poemas fortíssimos. beijos
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