Arte - Lisa Alves |
" A verdade se parece mais com a
melhor ficção que com jornalismo. "
(William Faulkner)
"(...)
o uivo coletivo é a única maneira
de
dignificação de nossa espécie. porém (...),
à diferença dos cães, que gemem em espaço
aberto,
para
a lua, o nosso uivo deve ser confinado, para que,
amplificado
pela engenhosa arquitetura das catedrais,
ultrapasse
nosso satélite natural e atinja o centro da galáxia,
redimindo-nos
aos olhos do criador, que infelizmente é
surdo-mudo
e não compreende sequer a linguagem de sinais."
(Campos de
Carvalho— retratos surrealistas, p. 30-31)
Nós
imploramos paciência, senhor mediador – precisamos aparecer nos papéis, no
canto da massa e nas cartilhas da igreja e do legislativo. Carecemos compor
notas inaudíveis através dessa sua imagem apagada, através dessa sua cabeça
caduca e de suas mãos (já não tão suas desde a época da alfabetização).
Necessitamos,
senhor mediador, publicar prognósticos sobre o futuro dos ecossistemas
terrestres e quem sabe oferecer-lhe também algumas dicas amorosas – mas para
isso basta tão somente manter todas as portas abertas, pois somos muitos e não
somos espécime de fileira ou senhas.
Não
adianta chorar, senhor mediador – choraremos juntos, você e nós significamos concordância
do verbo, desde o primeiro (aquele que disse o que disse e tornou-se o que é). Falaremos
juntos das injustiças do mundo e sobre as coisas que não podemos alterar, até
que chegue o dia que seremos assistidos.
Não
acredita, não é mesmo, senhor mediador? Prefere abafar nossas vozes com o seu adequado
anestésico social, com sua medíocre interpretação psicológica e sua schizophrenie espiritual. Somos muitos
em você e fora de você somos meras manifestações. Deixe-nos guiá-lo para o
caminho refletido em onze espelhos, onze esferas e onze retratações de sua
vida.
Sentado
esperando respostas, senhor mediador? Já lhe convidamos a fazer perguntas e
usá-las como contragolpes. Perguntaremos: o que é a verdade? Responderemos: a
verdade?
A
chave oferecida não é uma klischee interpretação
enigmática e sim o singelo ato de querer abrir a porta, senhor mediador. "Toc,
Toc, Toc", adoramos as onomatopéias – o poder real de interpretação dos sons... Decifre
o poder das vibrações das cordas, senhor mediador!
V r u m,
z h a p,
c h u a ...
z h a p,
c h u a ...
Você entrou em um mundo muito perigoso, senhorita!O escritor mediador vira bonequinha na mão do "inconsciente coletivo". Depois de ouvir o som das cordas, pedirei minha camisa de força, pois nesse fragilidade de vestes, fico impossibilitado de traduzi-la.
ResponderExcluiré por isso que carrego meu guarda-chuva. :)
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