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"El velatorio'" de Eugene Smith
Dedicado à Juliana Botão
Quando
um pai morre
uma
filha reveste o pescoço de proteção
e
joga sal grosso na casa
e
toma banho de ervas benzidas.
Quando
um pai morre
morrem
também os espinhos tutores das rosas,
morrem
os bravos guerreiros do inconsciente
e
a força motriz q nos faz caminhar no Tenebroso
Mundo Nosso.
Quando
um pai morre
os
outros homens tiram os
& os carregam contra o peito
& cantam pelos órfãos da casa
& choram e bebem até que a alma
do
paimorto se levante e cante o último
refrão da música:
“♪ ♫ ♪”
(só quem vela conhece a canção)
Quando
um pai morre
as mães vagam em um deserto imaginário;
folheiam
o álbum de casamento e quando um filho queda
a
mãe repreende: “Ainda bem que Ele não
está aqui para assistir isso!”
Quando
um pai morre
o nosso yin yang fica manco,
um
dos pólos derretem,
as
vezes fica só o dia ou
somente
a noite povoando
[as estações.
Quando
um pai morre buscamos nas escrituras sagradas
uma
eternidade tardia e se não a encontramos
decodificamos
“A Mesa” de Drummond
até
nos acharmos em um daqueles filhos
e
digerir a ideia do ciclo natural da existência.
Quando
um pai morre nossa orbe
fica sem um pedaço e uma ferida
se
expande silenciosa até chegar o
tempo
de uma inevitável metástase.
Quando
um pai morre partimos para
o
deserto mais instantâneo e gritamos
pelo
nome do progenitor até que o
lugar
inabitado destrua o eco de nosso luto.
Quando
um pai morre um filho surge
em
outra banda do mundo – o qual
será
também, um dia, mais um pai que morre
com todos os benefícios adquiridos pela vida e
pela morte.
E
as mães? Não! Uma mãe nunca morre!
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segunda-feira, 9 de junho de 2014
O Último Refrão da Música
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